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Consciência ecológica no trekking: um guia para a sustentabilidade

Tudo gera abalo ambiental, por isso lemos com frequência sobre o mínimo impacto, nunca sobre zero impacto – porque este simplesmente não existe. Não importa quão pequenos somos, tudo o que fazemos gera uma consequência no meio ambiente. Tudo é causa e efeito, ação e reação. E por isso é necessário criarmos consciência ecológica.

No mundo da aventura, algumas pessoas são mais conscientes que outras. Nada de errado quanto a isso, porque acredito que estamos ainda no momento semente de criar uma consciência ecológica. Evoluímos pouco, mas já temos ações distintas de dez anos atrás.

A própria natureza da caminhada já é uma atitude muito ecológica. Você já parou pra pensar que usar as próprias pernas para se impulsionar não gera gases ou emissões nocivas? Caminhar nos ensina a viver com menos, se contentar com o que temos, a ter paciência e cadenciar a pressa. No entanto, podemos fazer muito mais para tornar nossos trekkings mais ecológicos.

Rafael Kosoniscs

Consciência ecológica começa pelos equipamentos

Algumas marcas se importam com o planeta – ou foram obrigadas a isso. Independente da razão, muitas empresas que produzem equipamentos outdoor já se ligaram que se sustentável agrega valor e faz bem para a imagem corporativa. Porém, mais do que ter uma boa imagem, é ser realmente sustentável, não só de fachada.

Nós, praticantes de atividades ao ar livre, devemos fazer também a nossa parte. Podemos pesquisar as marcas que utilizam materiais recicláveis. Algumas empresas levam isso a sério, a ponto de buscarem certificações de produção limpa e sustentável.

A sustentabilidade é mais complexa do que se imagina, ela vai além de ambiental. Além da ética de produzir produtos sustentáveis, a empresa também deve ser analisada quanto ao teste de produtos com animais, bem como a mesma está agindo com os colaboradores humanos.

Certificações (nacionais e internacionais)

No Brasil, ainda não há uma certificação específica para produtos sustentáveis. Temos o Inmetro que certifica a qualidade do produto, mas sem um olhar profundo no que diz respeito à sustentabilidade. Tendo em vista que a maioria dos produtos outdoor são importados, segue abaixo os principais selos e certificações que devemos ficam atentos.

Responsible Down Standard (RDS)

Responsible Down Standard (RDS)

Atrás dos altos preços dos produtos, muitas vezes, existe uma razão: os altos custos das certificações. O selo Responsible Down Standard (RDS) é uma certificação que garante o bem-estar animal dentro da cadeia de produção, a exemplo de jaquetas feitas com pluma de ganso, a qual dá garantia de ter sido colhida de uma forma humana, sem sofrimento animal. Sendo assim, é melhor procurar por tal certificado. No mundo das outdoor temos uma boa escolha de marcas com certificads RDS. Veja a lista completa de comerciantes certificados RDS. Será que sua marca favorita está nesta lista?

bluesign®

Este selo é um dos mais positivos do mercado. Quando se deparar com esta certificação, tenha certeza que a produção foi feita dentro do padrão ético, ou seja, nenhum produto químico prejudicial foi utilizado na produção. Mas dá para confiar no selo? As certificações são sérias, uma vez que especialistas controlam, auditam e instruem os fabricantes para que possam produzir seus produtos com menos impacto no meio ambiente.

Certificado de Comércio justo

Este logotipo garante que pessoas que criaram o seu vestuário foram bem pagas, trabalharam em boas condições e não sofreram nenhum abuso. Além disso, há muito esforço para apoiar as comunidades, com a construção de escolas, centros médicos, etc. Ou seja, além de produzir produtos, as marcas que possuem essa certificação contribuíram com alguma comunidade.

Padrões de Lã ​​(RWS)

Raras marcam possuem esse selo. Ela certifica que as ovelhas foram bem tratadas, não sofreram maus tratos e passaram por altos padrões de ética e ecologia.

ISO 14001

O selo ISO (International Organization for Standardization) é um sistema de certificação que possui diversos selos. O selo 14001 tem como princípio a proteção ao meio ambiente, a prevenção à poluição e a gestão de impactos ambientais. A intenção é impedir o desperdício de recursos pelas empresas, gerar menos resíduos e evitar danos ao meio ambiente resultantes dos processos de produção. É um selo que atesta a empresa de um modo geral, não um produto específico.

Menos é mais: reutilizar e reparar

Quando se fala de sustentabilidade, se faz necessário algumas reflexões sobre nossas atitudes: será que precisamos adquirir produtos novos a cada temporada de montanha? Acredito que não! Podemos continuar usando equipamentos que podem ter alguns anos de uso, mas que ainda funcionam bem. Podemos tentar consertar o que pode ser consertado, a exemplo de ressolar uma bota, costurar uma mochila, etc. Também podemos comprar algumas coisas usadas ou trocá-las com outros caminhantes – quem é que nunca viu bazares e feiras de equipamentos usados?

Acredito que grande parte dos equipamentos podem ter anos a mais de vida, bem como ser reparado, reutilizado e doado. Essas ações são sempre válidas, desde que não comprometa a segurança e a saúde do viajante outdoor.

Consciência ecológica no trekking

Cuide de seus equipamentos

Preservar os equipamentos é também uma maneira de ser sustentável. Desta forma, você pode continuar usando-os por longos anos, minimizando o número de substituições. Já pensou nessa possibilidade?

Além disso, vale a pena investir em produtos de limpeza designados para determinados equipamentos. Desta forma, você não irá danificá-lo com detergentes agressivos. Você pode renovar a camada DWR, substituir um solado e assim por diante.

Uma das melhores maneiras de cuidar bem dos equipamentos é nos pós-trip. Quando você retornar da trilha, limpe e seque tudo. Vale lembrar que alguns equipamentos são caros, a exemplo de barracas, as quais podem estragar se você deixar que ela mofe dentro do seu guarda roupa. O mesmo serve para saco de dormir.

Eventualmente, dê uma olhada nos equipamentos quando estiver em casa – limpe o que precisar de limpeza, seque bem tudo e guarde-os da maneira que eles precisam. Lembre-se sempre de manter fora da umidade.

Consciência ecológica é preferir produtos biodegradáveis

Usar produtos biodegradáveis é uma das principais atitudes para aderir ao trekking sustentável. Nós absolutamente não podemos introduzir um sabonete qualquer em fontes de água, córregos e cachoeiras. Então, como tomar um banha digno em um ambiente natural?

A primeira solução é usar produtos naturais ou biodegradáveis. Caso seja difícil de encontrar sabonetes deste tipo, uma alternativa é captar um pouco de água e se afastar do local para não deixar que a química do produto se espalhe em toda a água. Aliás, essa atitude deve ser feita até mesmo com produtos biodegradáveis.

Após um almoço ou janta de trilha, limpar seus pratos com sabão é raramente necessário. Lenços umedecidos e papel higiênico podem fazer muito bem essa tarefa.

Consciência ecológica no trekking

Respeite leis e regras

Caminhar é ser humilde e respeitoso – embora eu acredite que todos nós tenhamos o direito de estar ao ar livre, mas isso não significa que devemos fazer o que quiser. O protagonista é o destino, não nós. Devemos sempre seguir as regras do lugar. Se uma região é proibida, não há sentido burlar uma lei para satisfazer nosso Ego. É importante aceitar que nunca iremos ver, experimentar ou admirar tudo o que gostaríamos. Alguns lugares ficarão como destinos de sonhos. E tá tudo bem.

Alguns parques nacionais possuem regras demasiadamente chatas aos nossos olhos, mas existe uma razão para que seja assim. Devemos respeitar.

Acampar em campings pré-determinados também faz parte do trekking sustentável, dessa maneira não há necessidade de abrir clareiras e danificar solos virgens.

Não faça fogueiras

Fogueira e trekking não combinam. Cria-se o risco de incêndios florestais, além de colocar em risco milhares de vidas animais. Fora isso, uma queimada libera partículas tóxicas perigosas no ar, causa danos ao ecossistema. Esqueça as referências dos filmes americanos!

Para minimizar os riscos, use apenas um fogareiro de fácil controle. Através dele, você faz o que quiser: ferve água, faz café e prepara a sua refeição – e nada muito além disso. Caso tenha medo de passar frio pela ausência de fogueira, use roupas adequadas para a atividade. Apenas!

Consciência ecológica no trekking

Cuide de seu lixo!

O que quer que tenhamos levado para a trilha, nós devemos voltar com tudo. Sem exceções. Nós não podemos jogar fora até mesmo um lixo orgânico – nem mesmo caroços de maçã, cascas de banana, pedaços de pão – nada, absolutamente nada. O motivo? As conseqüências podem ser gravíssimas. Eles podem introduzir espécies estrangeiras (bactérias, parasitas, plantas) no ecossistema. Fora isso, podem levar semanas para se decomporem completamente, fazendo com que animais se aproximem de outros caminhantes.

Para ajudar a si mesmo, crie o mínimo de lixo possível. Separe tudo de maneira didática. Evite levar embalagens em demasia. Por exemplo, você não precisa ter cada refeição em sua própria sacola plástica separada. É um desperdício e também ocupa mais espaço na sua mochila. Otimize sua carga!

Leve uma embalagem para retornar com o lixo orgânico. Eu costumo utilizar pote de Toddy vazio. É excelente para esses tipos de lixos.

Lide com seus dejetos!

Animais podem fazer o número 2 em qualquer lugar, mas nós não podemos! Nossas fezes são diferentes em diversos níveis, que não deveria nem ser cogitado deixas nossos “monumentos” à mostra. Mas então, qual a solução?

  1. Cavar um digno buraco e cobrir tudo com o terra. Porém, se você estiver em um parque nacional, verifique o regulamento do local, pois algumas reservas naturais podem ter regras únicas, por isso, certifique-se de que está dentro das normas.
  2. Shit tube é uma solução para locais que não suportam grande volume de pessoas – Travessia da Serra Fina, por exemplo. Ou também para destinos que não possuam solo favorável para cavar um buraco. Se você acha que ainda não está pronto para quebrar os paradigmas do número 2, basta escolher um destino diferente. Só não seja mal educado!

Consciência ecológica no trekking
Consciência ecológica

Respeite culturas e tradições

Não podemos nos sentir em casa em qualquer lugar, devemos respeitar os costumes e tradições de comunidades por onde passamos. Somos turistas e temos que aceitar essa condição. A boa educação também faz parte de um turismo sustentável, bem como contribuir como puder com a economia local, seja consumindo um almoço ou comprando um souvenir. Isso fazer parte e ajuda a desenvolver o turismo responsável.

Que tal fazer ações voluntárias?

Dependendo de onde você mora e como é a sua vida, você pode escolher maneiras diferentes de apoiar a luta pelo planeta mais limpo. Se você gosta de fazer caminhadas em um determinado parque, você pode verificar se eles precisam de voluntários para ajudar na manutenção ou se aceitam doações.

Além disso, é possível encontrar organizações e instituições de caridade que apoiam ​​os esforços de conservação – relacionadas a seus destinos de caminhadas. Muitos parques nacionais aqui do Brasil funcionam graças a um grande número de voluntários dedicados que ajudam na reparação de trilhas e na coleta de lixo. Sabia disso?

Indo mais além, também vale a pena pensar naqueles que não têm o privilégio de ter acesso fácil às “grandes aventuras”. Sendo assim, pode-se organizar passeios com crianças de bairros pobres ou idosos. Sempre dá para fazer algo!

Antes deste post servir para alguém, ele foi escrito para mim. Ainda estou muito longe de ser um montanhista 100% consciente, mas espero me aprimorar ao máximo. É o que desejo!

Rafael Kosoniscs

Sou jornalista e publicitário, tenho 36 anos e viajo de mochila nas costas há 12 invernos. Tenho a mochilagem e o montanhismo como paixões. Vou publicar meu primeiro livro este ano – e você já está convidado(a) para o lançamento. Fique de olhos nas redes para não perder, ok? Siga: @seumochilao | @rafaelkosoniscs

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