Crônica

O ‘salve-se quem puder’ em tempos de negacionismo

A hashtag “#NãoCanceleRemarque” invadiu a minha timeline desde o início do enfrentamento da covid-19 aqui no Brasil. Passei semanas observando o Ministério do Turismo e outras entidades frisando a importância dos turistas em não desmarcarem suas viagens. Notei também inúmeros blogs fazendo o mesmo ­– e passando essa vergonha. A razão é simples: ninguém quer perder dinheiro. E toda essa falação inclui política e egocentrismo.

Talvez eu pouco entenda de política para fazer discursos longos sustentados em bases sólidas, mas sempre li bastante e assisti inúmeras rodas de discussões com especialistas para que eu pudesse formar uma opinião. E também tenho duas formações em comunicação social, o que me permitem, penso eu, tirar algumas conclusões sem achismos, principalmente tendo o turismo como cenário, onde também atuo há sete anos.

É um momento catastrófico, no qual observamos pessoas morrendo a todo momento. Já passamos das mil mortes por dia, é como se oito aviões caíssem a cada 24 horas no Brasil. E, no meio dessa tempestade toda, vemos uma disputa ideológica macabra, na qual as pessoas começaram a duvidar de ciência por uma razão: paixão. O aforismo popular “a paixão é cega” nunca fez tanto sentido pra mim.

O que mais me choca, de fato, é que estamos diante uma crise humanitária global, mas que muitos ignoram, duvidam e, pior, querem tirar vantagens. Vi a criação do selo “Turista Protegido” pelo Mtur, no qual visa reconhecer estabelecimentos do setor que seguem boas práticas de biossegurança contra o coronavírus, que é mais uma cartada irresponsável para tentar fazer o turismo acontecer em momentos de “fique em casa”.

Então, a ideia aqui é pra falar pra você que tem viagem marcada: se houver necessidade, cancele, sim! Não deixe suas contas atrasarem, não deixe de ajudar quem precisa e não permita que entidades falem como você deve se comportar. Em tempos assim, pensar em viagens é supérfluo, desnecessário, egocêntrico e até mesmo uma atitude alienada – até porque não há como remarcar algo se não existe data para o mundo voltar ao normal, tampouco expectativas de vacinas. Tudo, absolutamente tudo o que disserem sobre viagens no momento não passa de puro achismo. Existe tempo pra tudo. E agora é tempo de “salve-se quem puder” e de ajudar quem precisa.

Charge: Milton César | Midiamax

Rafael Kosoniscs

Sou jornalista e publicitário, tenho 36 anos e viajo de mochila nas costas há 12 invernos. Tenho a mochilagem e o montanhismo como paixões. Vou publicar meu primeiro livro este ano – e você já está convidado(a) para o lançamento. Fique de olhos nas redes para não perder, ok? Siga: @seumochilao | @rafaelkosoniscs

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