Caminho de Santiago de Compostela Crônica

Encontro inesperado no Caminho de Santiago de Compostela

Caminho de Santiago de Compostela

Vinte e três de setembro de 2019. Depois de andar 29 quilômetros, cheguei no albergue “Casa Domingo”, em Casanova, na Galícia. Já se passava das 17h. Ao entrar na hospedagem, deparei-me com uma enorme sala cheia de peregrinos, todos curtindo o descanso pós-caminhada.

Alguns estavam interagindo; outros bebendo vinho; outros tantos mexendo em seus celulares, mas eu só queria descansar. E, sem coragem para encarar um banho de imediato, sentei-me num banquinho no quintal da hospedagem para curtir os últimos raios de sol. Aproveitei também para fazer um ritual sagrado: tirar as botas. Foi quando alguém tocou em meus ombros e falou: “Você tá bem, meu filho?”. Olhei pra trás e vi uma freira [da foto].

Na hora fiquei sem palavras, por um momento achei que estava tendo uma visão do além, até porque a freira falou comigo em português. O espanto passou quando a ela prosseguiu “eu também estou lendo este guia, ele é muito bom”, apontando para o livrinho que estava ao meu lado. Respondi, rindo de mim mesmo, que estava bem. “Daqui a pouco vão servir o jantar, é bom você se alimentar pra conseguir andar bem amanhã”, completou a religiosa já se despedindo para ir ao grande salão do albergue.

Tomei banho, joguei minhas roupas na máquina de lavar e cheguei no momento exato. Sentei-me ao lado da freira, a qual se apresentou como Maria dos Remédios, que entre uma conversa e outra, revelou que estava fazendo o Caminho de Santiago para, logo depois, ir ao Vaticano assistir à cerimônia de canonização da Irmã Dulce, que aconteceria em menos de duas semanas.

No dia seguinte, antes mesmo do sol nascer, encontrei-me com a irmã na saída do albergue. Ela falou: “meu filho, vou te dar uma benção pra você ter um dia maravilhoso de caminhada”. E assim ela fez.

Depois disso, fiquei sabendo que ela distribuía energia e sorrisos aos peregrinos ao longo da jornada, atitudes que fizeram dela muito conhecida entre os caminhantes daquele período. Tive a sorte de reencontrá-la na Missa do Peregrino, ritual para agradecer pelas experiências vividas ao longo do Caminho de Santiago. Maria dos Remédios: atos de santa e nome de santa. Pra mim já tá canonizada, é a Santa Maria dos Peregrinos.

Rafael Kosoniscs

Sou jornalista e publicitário, tenho 36 anos e viajo de mochila nas costas há 12 invernos. Tenho a mochilagem e o montanhismo como paixões. Vou publicar meu primeiro livro este ano – e você já está convidado(a) para o lançamento. Fique de olhos nas redes para não perder, ok? Siga: @seumochilao | @rafaelkosoniscs

9 Comentários

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  • Parabéns por aproveitar as oportunidades e fazer o que gosta. Tenho quase 64 anos, comecei tarde a fazer trilhas e caminhadas longas, a mochila é meu sonho, mas não no inverno, acredito preferir a primavera. Deus abençoe sua caminhada e suas escolhas 🙏🙏 abraço!

    • Olá, estou me preparando para fazer o trecho final do Caminho, em maio/junho. Esse final de semana fiz um simulado de 50km (25km/dia) e foi bem puxado. Achei seu blog buscando dicas de botas (infelizmente a minha não é ideal para longas caminhadas). Estou tão ansiosa e feliz por, finalmente, ter decidido fazer o Caminho de Santiago, que me vejo lá em casa postagem que leio. Adorei seu relato, muito especial. Obrigada

  • Ela era parte do grupo de juiz de fora que foi acolhido logo nos pirineus! Me lembro que te encontrei também e tirei a foto pra você no marco de 100 km

  • Nossa, que experiência bacana!!! Achei bem inspiradora!!! Foi Deus quem colocou esta pessoa especial no seu caminho!!! : )

  • Oi, obrigado pelo lindo relato. Hoje é meu primeiro dia de interesse a fazer esse caminho, não sei nem por onde começar kk, tenho muitas dúvidas que espero tirar através de tantos relatos que estou encontrando en Google. Muito obrigado pelo seu e boa sorte em seu livro que seja um grande sucesso 🌻

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