Um calor infernal toma conta de Martim de Sá e de toda a região da Reserva da Juatinga. O suor já aparece nos primeiros minutos de caminhada e permanece até o fim do dia, quando se chega ao destino pretendido – entenda-se praia pretendida.
Na trilha para ir a Martim de Sá, a subida é a grande companheira desde o início, é daquelas pirambas de colocar a língua para fora. Parte do trajeto é feito numa estradinha de terra que tem início em Pouso de Cajaíba, praia que antecede Martim de Sá – seguindo a lógica do sentido tradicional do trekking, cujo início é no Saco do Mamanguá e o fim na Praia do Sono. E o resto da trilha em meio à mata mesmo, em um caminho autoguiado e sinalizado.
Depois de aproximadamente 3 horas de trilha, já no ponto alto do trekking, aparece a bifurcação: de um lado a trilha para a Praia da Sumaca e do outro Martim de Sá, esta última acaba sendo a preferida dos trilheiros por possuir certa infraestrutura e onde há mais pessoas e agito. Sendo assim, muitos vão para à Praia da Sumaca num tiro só, apenas para fazer um bate-volta.
No meio da imensa subida, encontrei uma pequena casa onde um senhor sentava à varanda. E, para me certificar que estava na trilha certa, perguntei: “pra ir pra Praia Martim de Sá é por aqui mesmo?” A resposta que tive foi muito além de um “Sim”. Em poucos segundos uma senhorinha apareceu junto ao idoso e confirmou que o caminho era aquele mesmo. A conversa se estendeu. A voz embargada da pequena moradora denunciava uma tristeza aparente e, em poucos minutos de diálogo, deu para descobrir o motivo. “Minha mãe andava também por todas essas trilhas aí, ela não era de ficar parada, mas faz dois meses que ela morreu e deixou a gente aqui. Já tinha mais de cem anos.” E o papo correu solto por aproximadamente vinte minutos. De um simples pedido de informação, uma vida inteira foi narrada. Fatos que só acontecem em locais onde a simplicidade e as relações humanas são apreciadas. É isso que se pode esperar da Juatinga!
Praia Martim de Sá
Quem vai a Martim de Sá em alta temporada pode tomar um susto grande. A ampla área de camping se transforma em um verdadeiro bairro de barracas. Em fim de ano chega a reunir centenas, mas isso não quer dizer que aconteça desordem generalizada. Nada disso! O motivo? O lugar pertence ao Sr. Manuel dos Remédios, vulgo Seu Maneco, morador que toma conta do local há mais de 50 anos. Conhecido não somente por ser dono de Martim de Sá, ele é dos principais habitantes da Reserva da Juatinga, isso porque ele é figura carimbada por defender um turismo sustentável e acessível.
Em sua imensa área de camping placas estão espalhadas com diversas mensagens: “Quer fazer barulho? Vá até a praia”, “Aqui não se fala palavrão”, “Não abuse de bebidas e drogas. Se embriague da natureza”, “Quem suja a praia precisa de tratamento psiquiátrico”… Ou seja, o alerta é claro, nada de bagunça por ali. Além do mais, muitos do que vão a Martim de Sá já conhecem as condições do lugar e sabem que Seu Maneco é exigente em manter a harmonia do seu espaço. E ninguém o desrespeita.
Toda a área de camping é guardada por imensas árvores. Sombra é o que não falta por ali. Muitas barracas são armadas estrategicamente para não tomar sol durante o dia, mas isso está longe de ser um desafio. Qualquer canto do camping é convidativo para armar acampamento e passar longos dias.
Toda a família do Seu Maneco vive ali: filhos, noras e netos ajudam a tomar conta do paraíso escondido. E, cada família, possui uma maneira de levantar seu próprio recurso: pequenas vendinhas estão espalhadas pela área de camping. Alguns vendem peéfes com valor justíssimo – peixes e ovos fazem parte do cardápio principal –, além de sucos, salgados, geladinhos e diversas outras coisas.
A partir da área de camping, uma caminhada de 02 minutos é o que separada o viajante da areia da praia. A orla é das maiores da Juatinga, espaço suficiente para encontrar boas doses de sossego. O mar, como é de se esperar, é convidativo. Poucos conseguem passar o dia só contemplando a paisagem à sombra. Uma bica artificial garante o incessante vaivém entre a água do mar e o repouso na areia. Assim é a rotina de Martim de Sá.
Infraestrutura
Como as demais praias da Juatinga, Martim de Sá não é tão fácil de chegar, embora seja perfeitamente acessível. Comparado com as outras praias da região, a infraestrutura é boa. A praia possui grande área de camping, banheiro, chuveiro frio – não possui energia elétrica, só há um gerador para uso dos moradores. Café da manhã e almoço podem ser comprados no local, mas o camping possui espaço para cozinhar, sendo assim, é importante levar fogareiro e comida caso queira cozinhar por lá.
De barco ou por trilha?
De barco é a maneira mais fácil de se chegar a Martim de Sá. Do porto de Paraty saem diversas lanchas para as praias da Juatinga, mas nem todo mundo faz esse trecho. É importante pesquisar no local. Também pode acontecer de ter que pegar dois barcos. O primeiro até Praia Grande ou Pouso da Cajaíba. E o segundo até a Praia Martim de Sá. A partir de Ponta Negra também é possível contratar o passeio.
Por trilha é maneira mais roots. A Praia de Martim de Sá exige boa caminhada, isso porque ela fica aproximadamente três horas de Pouso de Cajaíba. E no sentido contrário, também se localiza a três horas de Cairuçu das Pedras. Ou seja, é uma trilha bacana, ainda mais se for feita com cargueira pesada. A Praia da Sumaca está a cerca de duas horas de Matim de Sá.
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Muitos ficam em Martim de Sá e passam apenas o dia na Praia da Sumaca. O farol da Juatinga também é possível conhecer a partir de um ataque, mas para isso tem que acordar cedo, uma vez que exige uma caminhada de aproximadamente 4 horas – somente ida. Sendo possível voltar de barco, com o custo aproximado de R$ 50.
Quanto custa
Barco: A partir de Paraty ou Paraty-Mirim sai aproximadamente R$ 100 por pessoa. Ou R$ 50,00 cada trecho (por pessoa também).
Camping na Praia Martim de Sá: diária de R$ 20 por pessoa.
Peéfe: R$ 25 por cabeça.
Reserva Ecológica Estadual da Juatinga
Tradicionalmente chamada de Juatinga, a área da Reserva possui aproximadamente 8 mil hectares – isso equivale a 8 mil campos de futebol – e abriga doze núcleos de ocupação de populações tradicionais (vilas caiçaras), que se espalham ao longo da Juatinga. Essas comunidades vivem da pesca artesanal, agricultura e um pouco do turismo (atividade recente). A fauna e flora também são as grandes atrações da região – juntamente com as praias –, a vegetação é composta da Mata Atlântica e possui aproximadamente 10 mil espécies de plantas, destacando-se, também, a mata higrófila, a mata de restinga e manguezal.
Paraty é a cidade mais próxima, sendo ponto base de apoio para as comunidades. O acesso é limitado a barcos ou trilhas. E o monitoramento da Reserva da Juatinga é feito pelo Inea, que atualmente está com um projeto de reordenamento turístico na área (principalmente capacidade de carga de pessoas), visando assegurar a sustentabilidade ambiental, a qualidade da experiência dos visitantes e a manutenção da qualidade de vida da população local.
Mapa da Juatinga
Seja um viajante consciente
- Acampe somente em áreas autorizadas (campings);
- Consuma refeições locais e contribua com a economia da região;
- Não faça fogueiras;
- Jogue lixo nas áreas determinadas;
- Respeite os costumes e tradições caiçaras.
O que você precisa saber
- O lugar não tem energia elétrica – somente gerador para uso da família local;
- Aceita somente dinheiro vivo;
- Não existe qualquer meio de comunicação;
- Tem que levar barraca;
- Permitido armar rede;
- Necessário levar água ao fazer as trilhas;
- Para se chegar de trilha demora alguns dias (mínimo de 3 dias a partir da Praia Grande);
- Dá pra ir a pé em algumas horas a partir do Pouso de Cajaíba e Cairuçu das Pedras;
- Trilha de nível moderado/difícil;
- Levar protetor solar e repelente;
- A diária custa R$ 20;
- O peéfe custa R$ 25.
Tracklog
O tracklog para se chegar a Cairuçu das Pedras está disponível no Wikiloc.
[…] Martim de Sá, Juatinga: a praia do Seu Maneco […]
[…] era o retrato mais fiel daquela região de praias isoladas. Fui para lá numa caminhada a partir da Praia Martim de Sá com o desejo de conhecer o Farol da Juatinga, uma pequena torre luminosa que já teve grande […]
Sensacional o post, cara! Fui a Martim de Sá há muito tempo e não fazia ideia de que tinha crescido com opções de PF e tal. Antes não tinha nada.. haha..
Excelente post e fotos. Ajudou muito.
Abs!
Valeu, Leonardo. Abss!!!
Vende gelo por lá? Normalmente esses locais tem um barquinho que leva gelo mas como vc não comentou nada sobre isso achei prudente perguntar rs.
Eduardo, não sei se vende gelo.
[…] Martim de Sá: a praia do Seu Maneco […]
Sabem me informar o clima em agosto? Sou de ms
É inverno, mas lá é quente o ano todo. É uma ótima época para conhecer. Abs!
Também fui em 2003 (por aí) e lembro que não havia sequer camping, tínhamos que levar tudo, inclusive comida. Na época, éramos apenas duas barracas na praia inteira…! Muito bom saber que o local ainda continua preservado e que o seu Maneco ainda continua por lá. Vida longa a ele e à luta dos Caiçaras!
Sim, continua tudo perfeitinho, Mariana. Um abraço!!!
Boa noite, Rafael! Tudo bom?
Obrigado por compartilhar suas informações!
Fiquei com uma dúvida: O camping do Maneco não tem reserva antecipada, né? Corre o risco de chegar lá e estar lotado?
Abraços e obrigado!
Olá, Gabriel. Lá não chega energia, tampouco sinal de telefonia. O camping é gigante, não tem como ficar sem vaga. Abs!
olá, você pode por favor me confirmar se lá não pode fazer fogueira mesmo? (porque eu pretendia levar uns legumes pra fazer comida lá durante minha estadia hehe)
outra coisa, esse custo de 100$ é ida e volta? saindo do porto de paraty? obrigada!
Vanessa, claro que não pode fazer fogueira. Lá é uma área de proteção. E outra, existe fogareiro para vc fazer comida, mais fácil, né?
Gente,
Alguém sabe informar se tem aluguel de quartos lá no camping do maneco?
qual contato deles?
Obrigada!
Conforme mencionado no post, não há meio de contato. Abs!
Fala man. Tive em Martins em jan/2013. Quero mto ir em jan de novo. Vc tem algum contato de barqueiros em Parati que eu ja possa “agendar” pra ir? Tem uns barqueiros parentes do seu maneco que fazem esse link, mas perdi os contatos. Quando fui, eramos umas 8 pessoas e o tempo estava tão ruim que o barco teve que nos deixar em pouso de cajaíba. Pegamos 3 dias de tormenta (aquela que arrasou Xerém e Zeca Pagodinho apareceu de quadricículo. kkkkkkk
Dessa vez, como vou sozinho, nao queria correr o risco de chegar em parati e nao conseguir embarcar por causa do tempo ou por não ter gente suficiente pro barco partir, sacou? Abs e parabens pelo site.
Fala, Daniel. Tudo beleza? Eu não tenho contato de barqueiros, vou ficar te devendo essa.
Abraços!
Gostaria de saber até qual horário conseguimos pegar o barco em Paraty, para Martins, a previsão de chegada la seria 18:30. Acha que consigo barco ainda??
Não dá pra saber. Dificilmente algum barqueiro vai querer navegar à noite (ou próximo do anoitecer).
Abraço!
[…] diversos cantos, principalmente para as praias da região da Juatinga, como o Saco do Mamanguá, Martim de Sá, Cairuçu das Pedras, Praia da Sumaca e outras da região. E falando em praia, Paraty-Mirim possui […]
Eaii , adorei o post . Sabe se o valor do camping aumentou ?
Olá, Izabel. Se aumentou, foi pouca coisa. No Tripadvisor também não tem nada com os preços atuais. Mas pode confiar que a média de preço é essa mesmo.
[…] Cairuçu das Pedras | Praia Martim de Sá […]
[…] Martim de Sá, a praia do Seu Maneco […]
Oi, Rafael
Tô a fim de passar uns dias lá em Martins de Sá, mas queria confirmar as infos com o S. Maneco! Sabe de algum jeito de conseguir contato com ele?
Obrigada! 🙂
Caru, não tenho o telefone. Se houve mudança, é mínima, no máximo alguns reais. No mais, a praia tá lá ainda, as trilhas também. Só ir!
Como funciona com relação ao camping?
Gostaria de ir em um feriado, que possivelmente fica mais cheio que um final de semana comum, porem como la não tem telefone tenho medo de super lotação.
Tem alguma forma de fazer reserva ou é na sorte??
Gabi, lá é gigantesco, não existe a menor possibilidade de encontrar tudo lotado e sem espaço para a sua barraca. Pode ir sem receio. Até em virada de ano sobra um espacinho. Só vai!
Muito legal o post! Gostaria de saber se os preços valem para altas temporadas e quantas horas são de viagem de barco?
Tem o contato do seu Maneco? É preciso/possível reservar um lugar no camping?
Valem sim, se sofrer alteração será pouca coisa, nada que afetará a sua viagem. Não possuo o telefone. Abraços
ei! amei o post! queria saber como consigo o contato do seu maneco pra falar que to indo no carnaval! porque to com medo de ser uma época cheia!
beijos e brigada!
Não tenho o contato do Maneco, mas também não precisa ligar pra avisar. Lá não funciona com reserva. Abraços
Oie, Rafael
Incrível o Post! Nesse único artigo consegui esclarecer todas as minhas dúvidas!
Obrigado por compartilhar suas informações!
Alguém tem fotos de surf em Martin de Sá?