Construída por mais de 35 mil homens, Hassan II é uma obra-prima da arquitetura árabe – e tão rica quanto a cultura marroquina
Fito meus olhos em uma mulher coberta com véu negro, que quando percebe minha admiração, timidamente abaixa a cabeça e não volta mais a olhar para mim. Ao meu redor há dezenas de outras mulheres e homens muçulmanos: sentados diante da mesquita Hassan II, em Casablanca, no Marrocos, eles aguardam o momento do Salat, a oração que é feita cinco vezes ao dia. Pela quantidade de gente, o ritual deve acontecer em pouco tempo. Meu relógio aponta 14h45 da tarde.
Para lembrá-los da oração, momento em que o sol já não atinge mais o seu ponto máximo, uma voz em árabe ecoa pelo alto da grande torre da mesquita – chamado de minarete, o monumento é visto em praticamente todos os pontos de Casablanca e possui 200 metros, uma altura que corresponde a 60 andares, o que faz dele o maior do mundo e o principal marco da cidade. No topo do alto edifício existe um raio laser direcionado à Meca, na Arábia Saudita.
Banhada pelo mar do Atlântico, a mesquita é uma majestosa arquitetura árabe de 15 hectares, o mesmo que 15 campos de futebol, a qual foi construída com enormes custos para comemorar o 60º aniversário de Mohammed V, pai de Hassan II, antigo rei de Marrocos, que reinou durante os anos de 1961 a 1999. Financiada não somente pelo reino, grande parte da quantia da edificação foi reunida pela própria população marroquina. “Todos nós ajudamos a construir esse templo. É a maior mesquita da África e a terceira maior do mundo, sendo uma das poucas que aceita a visita de não muçulmanos. Ela pode acomodar 105 mil fiéis”, conta meu guia, Ghassan El Mokliss. O templo começou a ser construído em 1986 e foi concluído em 1993. Segundo Ghassan, mais de 35 mil operários trabalharam na obra. O custo da construção atingiu a cifra de 500 milhões de euros (2,8 bilhões de reais).
Ao caminharmos pelo enorme pátio que rodeia a mesquita, o sol reluz o mármore branco nos meus olhos. Desvio a atenção para as paredes do templo, meço o minarete de baixo para cima e fico admirado com tamanha delicadeza de algo tão monumental. Chego próximo da entrada do santuário para apreciar os detalhes da construção. As formas geométricas que compõem a estrutura se fundem com a suavidade das cores claras contrastadas com os tons turquesas e verdes. É uma luxuosa exibição.
Dentro das espessas paredes de Hassan II, parte do universo muçulmano é revelado. Quem entra na mesquita é obrigado a tirar os sapatos. Eu tiro os meus. Com colunas robustas e convidativas ao olhar, o ambiente é amplo e esplêndido. Há inúmeras decorações esculpidas em madeira e mármore. “Cerca de 12 mil artesãos foram convocados para criar essa decoração interna”, explica Ghassan, referindo-se aos elaborados mosaicos espalhados pela mesquita. De acordo com o guia, o teto é retrátil e aberto em cinco minutos, mas somente em cerimônias importantes do calendário muçulmano, o qual permite que os fiéis possam rezar iluminados pela luz do sol ou pela luz da lua.
Imerso em um ambiente sagrado para os seguidores do islamismo, surpreendo-me com a grandiosidade e com os detalhes. Os portões dourados, feitos em latão e titânio, possuem altura descomunal. As decorações em bronze e as 65 mil toneladas de mármore utilizadas na construção demonstram a riqueza do local. Alguns ambientes não podem ser visitados e são vigiados por guardas – entre eles estão a sauna, a suntuosa madraça (escola muçulmana), a biblioteca de mídia e uma academia de artes tradicionais.
Desço as escadas até chegar no subsolo. Encontro a sala de ablução, um imenso ambiente recheado de fontes, ao todo 41, que são utilizadas para a lavagem de pés e mãos dos muçulmanos antes do início dos rituais.
Em cima de tapetes coloridos e robustos, os primeiros fiéis se ajoelham no chão do salão principal. Na parte central e ao fundo está o mihrab, uma estrutura em arco que indica a direção de Meca, onde os muçulmanos voltam-se para fazer suas orações. É quando, ao fim da tarde, o dourado do pôr do sol invade o ambiente solene através dos vitrais. Percebo que tão grande quanto a mesquita e tão alto quanto os versos ecoados do Alcorão é a fé dos marroquinos.
Mais informações
- Como ir: a Royal Air Maroc voa direto de São Paulo e Rio de Janeiro para Casablanca. É comum ocorrer escalas no Marrocos em voos para a Europa.
- Endereço: Boulevard Sidi Mohammed Ben Abdallah
- Horário de funcionamento: de sábado a quinta-feira, das 9h às 12h e às 15h.
- Visto: não é exigido para turistas brasileiros.
- Moeda: 1 Dirham marroquino (MAD) vale R$ 0,43.
- Melhor época: na primavera, entre março e maio, as temperaturas estão mais amenas, e no fim do verão (setembro) e outono (outubro e novembro), quando as temperaturas começam a diminuir.
- Site oficial da Mesquita Hassan II: https://www.fmh2.ma/en
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