Trekking & Aventura

O lado B do trekking

Parece que todo mundo desse planeta começou a praticar trekking. Nós, tupiniquins, nunca tivemos tão fácil acesso à informação sobre o mundo outdoor como temos agora. Vejo gente calçando botas, postando fotos nas montanhas, pessoas se aventurando… Isso é legal. Nada mais bonito. Melhor mesmo se isso fizer parte da nova geração, da nova cultura. Seria tudo isso uma grande evolução? Rezo pra que sim, talvez dê uma mudada no comportamento da galera, tomara que deixem o Facebook um pouco de lado. E torço também para que não seja modinha e que as pessoas estejam realmente mais ligadas em experiências.

Vamos ser sinceros, praticar trekking é uma atividade maravilhosa. Afirmo com total segurança que esse exercício ao ar livre mudou radicalmente a minha vida, pra melhor, é claro. Desde quando iniciei esse blog, há praticamente 2 anos, conheci muita gente ligada em aventura. Semanalmente recebo muitos convites de amizade, e 95% são advindas do blog. Acho o maior barato, primeiramente porque conhecer gente já é legal por si só, e segundo, são pessoas parecidas comigo. A troca de experiência é sempre muito válida. Ok, às vezes aparecem uns malas, principalmente para provar que são “picas das galáxias”, mas tá no pacote. Sem drama.

trekking

Com essa imersão no trekking, conheci o lado B da história. Vi que existe um mar de vaidade, competição e arrogância. Triste. Mas é a realidade. Quem conhece um pouco desse mundo vai concordar comigo. Sabe aquela história de que até o seu inimigo quer ter a pior doença que você? Pois bem, no trekking isso acontece muito. Sempre tem alguém para competir com a gente, mesmo que seja de forma velada. Não é raro escutarmos essas frases: “ah, já fiz essa travessia, é moleza”, ou algo do tipo “nossa, você ainda não foi nesse lugar?” e até “já fiz esse trekking quando você ainda nem era nascido”. Esses são apenas alguns exemplos, mas a quantidade de idiotices vai muito além disso. Sério.

Existe competição de quem pisa em tal lugar primeiro, de que sobe mais alto, de quem tem melhor equipamento, e pasmem, rola até uma rivalidade de quem faz tal circuito mais rápido. Cabe dizer que não critico as pessoas que buscam superar limites, muito menos os que querem fazer história, porque são esses trekkers que me inspiram. Eu me refiro aos que desdenham.

Conversei recentemente com um parceiro de trekking e discutimos sobre este assunto. O papo foi longo. Tiramos algumas conclusões, mas sobretudo enxergamos uma oportunidade de fazer diferente, de incentivar pessoas a saírem da caixinha, de se permitirem ao momento outdoor, simplesmente pelo prazer de sentir algo extraordinário.

trekking-rafaelkosoniscs

É meu papel (eu acho) como influenciador apoiar a prática da atividade de forma sadia e sem competição. Juro que esse não é um discurso político. Recentemente fiz a Expedição Cassino, um roteiro praticamente desconhecido, que demorei meses para elaborar. Tem vaidade nisso? Tem! Mas isso não me cega e não me faz sentir dono do destino. Na realidade não vejo a hora de divulgar o relato dessa expedição, a fim de induzir os leitores às mesmas experiências que eu obtive durante a travessia.

Vejo que existe uma troca de valores no mundo do trekking, onde muitos esqueceram o real sentido da atividade, que é oferecer um momento formidável ao ar livre, especialmente àquele que busca aventura, um momento de reflexão, interação com amigos… enfim, um contato com a natureza.

Trekking é sempre trekking, seja com guia, sem guia, no Brasil ou no exterior. O que importa é o que a atividade oferece para o praticante. Apenas isso.

Fotos: Pavel Ilyukhin (1ª) – 123RF Banco de Imagens | Krayker (2ª) – Stock. Xchng | Seu Mochilão (3ª)

Rafael Kosoniscs

Sou jornalista e publicitário, tenho 36 anos e viajo de mochila nas costas há 12 invernos. Tenho a mochilagem e o montanhismo como paixões. Vou publicar meu primeiro livro este ano – e você já está convidado(a) para o lançamento. Fique de olhos nas redes para não perder, ok? Siga: @seumochilao | @rafaelkosoniscs

52 Comentários

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  • Concordo com você,infelizmente acontece de ter essa rivalidade idiota. A vida que segue e vamos subir todas as montanhas que conseguimos.

  • Ainda bem que ainda ñ conheço essa trupe….prefiro meus qridos que praticam a atividade por mero prazer e aventura e ñ para ficar se gabando.

  • Adorei o texto Rafa. Não tem coisa mais chata que você postar uma foto e ler nos comentários: ” já fiz essa travessia, mas fiz plantando bananeiras e com os olhos vendados” kkkkkkkkkkkkkk

  • Fiz dois trekkings e foi sensacional, não me sinto menos e nem mais, me sinto apenas grata por ter sentido isso! 🙂

  • É bem assim mesmo. AMO fazer trekking e faço com a minha filha. Sempre nos deparamos com algumas pessoas assim. Algumas comentam apenas para troca de experiências, outras é para aparecer mesmo.
    Não gostei de um comentário que eu ouvi, uma vez, a menina do trekking dizendo: “vamos sair logo daqui que o ônibus da CVC já chegou”. Como se o nosso passeio fosse mais chique e dos outros era um nada.
    Acho que cada um na sua. Todos tem seus méritos. Para mim, o importante é ser feliz.

  • Muito bom o artigo Rafael! Eu tenho notado esse comportamento do pessoal há algum tempo também. Uma maneira de não me envolver com isso, foi passar a praticar trekking só com os bons e sossegados amigos, não carregando a bandeira do grupo A ou B. Às vezes é bom um artigo como esse que não só incentiva a prática, mas que também orienta para um convívio saudável entre os adeptos. Abraços!

  • É, faço trekking ha tão pouco tempo, afinal, não tenho $$ nem tempo para viajar sempre… de todo modo, sempre tem um que fala: Você ainda não foi pra machu picchu? Aff… da canseira desse tipo.
    Mas sim, vivo falando de viagens e pouco de trekking no meu blog. Gostaria que mais gente tivesse essa experiencia simplesmente por vivê-la…

    ótimo texto!

    • Sei bem, Gisela. É irritante mesmo. Como se fosse regra fazer determinados trekkings, não é? Vou espiar seu blog! 🙂 Valeu pela visita. Um abraço.

  • Uau texto sensacional, muitos precisam ler isso.
    Vou compartilhar…

    Parabéns!

  • Descreveu bem a real situação…

    Já vi alguns “Zé Ruela” desses por aí. Me irrita, me enoja, me deixa puto, muito puto mesmo. Já deu até treta.

    O Egocentrismo dessa raça vaí sempre na frente. “Tenho que fazer esse trajeto antes de muitos, tenho que realizar tal travessia em menos dias…” FODA-SE (desculpa o palavrão), quando eu realizo tal ato, convido amigo e também os que não conheço, simplesmente pela sensação e o bem estar que trilhar me trás. Gostaria que fosse sempre assim!!
    Abraço

  • Sensacional seu post! Juro que também percebi isso em algumas ocasiões. Ouço mais: “VC ainda não fez isso!!! nooossa” como se eu fosse um Et incapaz. Eu não quero provar nada pra ninguém. É como vc disse: quero o prazer de praticar uma atividade na natureza. Se eu superar limites, melhor. Se não, já estarei no lucro por ter praticado uma atividade prazerosa e enriquecedora. Parabéns pelo texto excepcional e oportuno! Beijos

  • É estranho julgar a experiencia do outro, querendo ou não relatar no blog é vaidade também não? Uma da qual tb pratico. 🙂

    • Chris, a questão é desdenhar a outra pessoa. Eu tenho a minha vaidade, como até citei no texto, mas isso não me faz menosprezar outras pessoas. Sacou?

  • Ótima reflexão! Realmente na prática do trekking encontramo-nos com pessoas solidárias e que desejam conhecer lugares, buscar respostas para sua própria vida e comungar com a natureza, mas não é raro depararmo-nos com exibicionistas.

  • Verdade!
    Pior mesmo é ouvir: você levou todo esse tempo? Eu fiz em muito menos…
    Cada um é cada um.
    Vou devagar pois quero apreciar a paisagem, curtir o momento, aproveitar cada caminho.
    Eu supero sim meus limites e a única pessoa que preciso provar algo nessa vida, é a mim mesma.
    Se consegui alcançar o topo morro em mais ou menos tempo que você, não me importa.
    O importante é que consegui alcançar o topo do morro.
    Ótimo texto amigo.
    Compartilho com você esse lado ‘negro’ do trekking…

    • É Carla. acho que o mais importante mesmo é a gente tenta mudar essa mentalidade, já que conversamos diretamente com os praticantes da atividade. Não é? Abs

  • Concordo com o texto, hoje em dia sempre aparece os ” malas” que se acham o Reinhold Messner e que não sabem a verdadeira essência da viagem, se for para competir que seja com vc mesmo, supere seus limites, vá para longe, busque se perder para se encontrar, cada um busca sua felicidade seja ela viajando para o litoral de sampa ou sentido Koh phi phi na Tailândia , mas por favor seja vc!!!

  • Oi Rafa! Mas isso é o que mais encontro por aí! TODA vez que fiz trekking com um grupo misto, SEMPRE rolou esse tipo de competição besta! Gente que se exalta tentando diminuir os outros… isso é péssimo, pra não dizer ridículo!! Comportamento infantil do tipo “eu tenho e vc não tem”. Eu percebo quem é esse tipo de pessoa muito rápido e nem fico perto! Sair correndo na frente pra chegar primeiro tbm acontece muito! E quando a gente chega, 1h depois o fulano sempre fala “noooossa, mas só chegaram agora????” hahah olha, tô rindo aqui mas na hora irrita muito viu… o melhor mesmo é se afastar e não dar ideia! Excelente texto!
    Ah!! Citei a lista dos 15 livros no meu último video Retrô (set/out)!! Bjo!
    Isa – LidoLendo.

    • É verdade, Isa. É o que mais se encontra por aí. É como tu disse, é uma infantilidade sem tamanho. Vai entender, né? Eu vi o seu vídeo e adorei. Compartilhei na fanpage do blog no mesmo instante. Muito obrigado por sempre mencionar o blog. Ficou muito bom. Sou fã do canal Lido Lendo. 🙂 Um abração!

  • Expedição Cassino? Aaahh, essa eu fiz antes de você nascer cara! hauhaua, brincadeira, sei dela por você.
    Irado o post!

  • Achei interessante a matéria. Não pratico trekking, pratico corrida de rua. A maioria dos corredores costuma incentivar aqueles que têm maior dificuldade. Não digo que não exista competição, mas a imensa maioria costuma apoiar se mutuamente. Temos que competir contra nós mesmos, superar os nossos limites. Isso em qualquer esporte. Lamentavelmente existem pessoas que confundem a prática esportiva com a própria vida. O esporte não é a nossa vida. É só um meio de torná la mais leve.

  • Quando me perguntam “Nossa, você ainda não foi em tal lugar?”, eu respondo na caruda: “eu não, mas tem um blog sensacional que já fez coisa bagarai, conhece o Seu Mochilão?”.
    Onde tá a vantagem e vaidade nisso? Em ser seu amigo, claro. Porque completo a frase “e ele é meu amigo e parceiro no ExploraSampa”.
    PAH na cara da sociedade rs
    Brincadeiras à parte, concordo com essa sua visão. Além do trekking, ela se extende aos blogueiros de viagem num geral. “/
    Abs!

  • Rafael,
    Agora sim, seja bem vindo ao Mundo Trekking!!!
    E esse mundo é “sortido”, como diz a minha mãe!

    Mas veja pelo lado bom: sempre encontrarás gente parceira, compreensiva e de prontidão a ajudar. A princípio, alguns mais experientes até poderão soar arrogantes, mas com o tempo comprovará que estes são minoria! O verdadeiro Montanhista é antes de tudo um cara humilde, paciente e incentivador da atividade alheia, mesmo que seja através de uma crítica! E ao reconhecer isto verás que vale a pena!

    Abs, bons ventos pra Ti!

  • Salve!

    Muito bom o post. O título “Lado “B” do trekking” foi bastante original e toca num assunto que todos sabemos que existe mas poucos de nós se dão conta, até mesmo de atitudes que às vezes, sem querer, acabamos por praticar.

    A rivalidade, a competição, parece que são imanentes ao ser humano. O problema é que acabamos levando isso para todo lugar conosco, e aí entra o tal “lado B”. Diria que é, antes, o lado “B” do homem!

    Namastê!

  • Muito bom o BLOG Rafael e em relação ao post, o que não falta nesse mundo é babaca. Sempre fui praticante de atividades esportivas e sempre adorei viajar pelo mundo. Só agora estou começando a praticar trekkins. Como não pensei nisso antes rs. Começarei com a Trilha Salkantay agora em Julho e estou me preparando. Estou desde já seguindo seu blog e outros similares pois tenho certeza que vou querer fazer outros passeios desse tipo. Abração

  • Muito legal esse seu relato. Concordo em tudo com você. Adoro suas postagens. .
    Abraços Rafael.

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