Permacultura: um novo estilo de vida (Documentário)

O resgate dos conhecimentos ancestrais aliado à realidade contemporânea é uma aposta para um futuro sustentável

Por Rafael Kosoniscs e Jefferson Rodrigues

Em uma plantação de verduras na Ecovila Tibá, em São Carlos, SP, o permacultor Fernando Neubauer coloca sementes debaixo da terra para garantir o abastecimento da pequena comunidade, tudo de maneira natural, sem uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos.

Jeito sem pressa, ele anda pelas fileiras das plantações e confere se tudo está saindo como planejado — outras pessoas o ajudam na tarefa — , os quais são voluntários e moradores da ecovila.

Por trás do Fernando Neubauer e de cada permacultor, existe um conceito que vai além de plantar e colher. Para entender, é preciso voltar para os anos 70 e ir para a Austrália, país onde surgiu a agricultura sustentável e autossuficiente, denominada de permacultura.

Liderados pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, a permacultura, conhecida também como agricultura permanente, nasceu da necessidade de mudar a maneira de fazer agricultura e minimizar os impactos ambientais causados pela monocultura.

Peter Webb, australiano, engenheiro agrícola e um dos precursores da permacultura no Brasil, é um dos que viu o movimento surgir, diz ele, “nasceu numa época em que a consciência humana estava muito ligada no fato de que estávamos ingerindo muito agrotóxico, e que poderia ser diferente, com uma nova possibilidade do ser humano não destruir o mundo, mas de criar alternativas”.

Partindo dessa ideia de diminuir os danos no meio ambiente, os fundadores escreveram um série de princípios que abrangesse não somente a agricultura, mas a maneira de se relacionar com todos os seres do planeta. E, todos os princípios propostos, estão baseados nas três éticas da permacultura: 1) cuidar da terra; 2) cuidar das pessoas; 3) fazer a partilha justa dos excedentes recursos.

No Brasil, o movimento chegou por volta dos anos 90, quando Bill Mollison veio para o país para aplicar o permaculture design course (curso de design e permacultura) e, desde então, novos permacultores surgiram em terras tupiniquns.

A permacultura é um resgate das culturas ancestrais com visão contemporânea, isto é, utiliza-se de recursos antigos, como o de plantio, bioconstrução, captação de água e geração de energia adaptados aos tempos modernos, sobretudo mantendo sua essência minimalista.

Não existe acaso na permacultura. Tudo está baseado no design e na lógica da natureza. A agricultura é feita sem o uso de agrotóxicos e respeitando as quatro estações, as construções são realizadas de acordo com os recursos existentes em cada local, todos os ambientes são analisados e construídos a partir de estudos prévios. O aspecto simples dos ambientes esconde uma estrutura complexa e engenhosa.

Djalma Nery, escritor e coordenador da associação Veracidade, explica de maneira objetiva o conceito da permacultura, “é uma ciência do design de assentamentos humanos sustentáveis. Ela serve para planejar espaços, desde casas até bairros, pensando na perspectiva da sustentabilidade e da ecologia”.

Quando se pensa em permacultura, logo vem à cabeça um sítio, uma fazenda e uma vida no campo, mas a permacultura também pode ser aplicada nas grandes metrópoles, é o que diz o estudioso. “a permacultura no campo é apenas um aspecto, mas, na verdade, ela tem tudo a ver com as cidades. O conhecimento envolvido, os princípios e a ética são os mesmos”, garante Djalma Nery.

Para implantar a permacultura das grandes cidades o desafio é maior, mas é possível aplicá-la, até mesmo para quem vive em espaços reduzidos. Claudio Spinola, fundador da Morada da Floresta, diz como, “se a pessoa não tem nenhum espaço para plantar, é possível encontrar. Basta olhar pela janela e ver algum lugar que dê para utilizar, uma praça, um canteiro. Sempre é possível”.

A permacultura pode ser uma das ferramentas para ajudar no equilíbrio da Terra, é o que aposta o permacultor Tadeu Kusano, “é pelo menos uma tentativa. Não tenho dúvidas de que nada é infinito, mas a finitude do próprio planeta se torna mais durável com ações respeitosas, como a permacultura”.

Atualmente, o movimento da permacultura está presente em mais de 140 países e tem inspirado milhares de pessoas a um estilo de vida mais sustentável e autossuficiente. “A permacultura, é hoje, um arrependimento das pessoas mais conscientes que tiveram a percepção de que o sistema produtivo dominante e hegemônico é destrutivo”, conclui Tadeu Kusano.

A permacultura é uma forma fácil de ser compreendida e até mesmo aderida, na qual encontra-se acessível a qualquer um que queira conhecer este novo estilo de vida.