Para os interessados em explorar o litoral norte de São Paulo, Ubatuba é uma excelente opção. Existem diversas opções de passeios, incluindo a Trilha das Sete Praias que, como o próprio nome diz, percorre sete praias da região, que só são acessíveis por meio de caminhada ou barco.
Já havia paquerado por um tempo a ideia de experimentar essa trilha e na internet tinha lido relatos no sentido de que se tratava de um passeio fácil/moderado que, inclusive, crianças poderiam fazer.
Depois da minha recente experiência, acompanhada pelo meu namorado, pudemos concluir que: (i) ou os relatos estão desatualizados, mostrando apenas as partes boas da trilha; ou (ii) preciso urgente rever minhas condições físicas, porque “fácil”, definitivamente, essa trilha não é.
Assim, antes de optar pela aventura, fique alerta aos 7 cuidados principais que você deve observar antes de percorrer esse belíssimo e desafiador caminho.
1. A questão da hospedagem
Como a trilha é longa, talvez não seja uma boa ideia fazer bate e volta se você vier de uma cidade longe, sendo aconselhável passar uma noite em Ubatuba.
A Trilha das Sete Praias fica no sul de Ubatuba, perto de Caraguatatuba, então nada de alugar hospedagem no centro da cidade, já que de lá até o início da trilha são mais de 15km, hein.
A trilha pode ser iniciada na Praia da Fortaleza ou na Praia da Lagoinha, então tente reservar sua hospedagem próximo à elas. Optei pela Lagoinha e devo alertar que lá as opções para comer e se hospedar são bem limitadas. Ainda assim, nossa escolha foi baseada principalmente no fato de que na Praia da Fortaleza, tais opções pareciam ainda menores.
De todo modo, recomendo a pousada Aldeia da Lagoinha, que é bem limpinha, tem boa localização, piscina, hidro, vista agradável e funcionários prestativos. Não conta com café da manhã e a diária sai por cerca de R$150,00 – achei caro, mas foi o melhor custo benefício que encontramos na região.
2. Esteja em dia com a academia
Para fazer a trilha completa, como diria o poeta, tem que ter disposição. É necessário preparo físico mínimo ou ser habituado a fazer trilhas.
O mapa acima mostra o trajeto que fizemos e o perfil de elevação do solo. O pico do gráfico demonstra a subida de 79 metros que tivemos que fazer.
O aplicativo “Saúde” do meu celular gravou minha batalha pessoal da seguinte forma:
Pronto, já fiz minha atividade física do mês.
3. Evite períodos de chuva
Toda estação é estação de chuva em Ubachuva, mas tente fazer o trajeto em períodos mais secos.
O cuidado aqui é para evitar a todo custo fazer o trajeto com chuva ou, ainda, nos dias seguintes dos dias de chuva. Optei por fazer a trilha no outono pela questão do tempo mais seco, mas minha escolha foi em vão, já que nos três dias anteriores choveu muito na cidade, deixando a trilha MUITO escorregadia.
No fim da aventura, estávamos com lama por todo o corpo, com mais hematomas do que qualquer sobrevivente da última temporada de Game of Thrones, mas felizes por sobreviver aos tobogans de lama.
4. Prepare a lancheira
As praias são desertas (fotos abaixo), principalmente fora de temporada – claro, se fosse pra ver um monte de gente, não teria nem graça fazer a trilha.
Desta forma, não há exploração comercial, de modo que é necessário levar água, toddynho e o que mais lhe agradar para matar a larica durante a trilha, que dura, com certeza, no mínimo três horas, não importa o quão rápido você anda.
Não esqueça de recolher o lixo que produzir após consumir qualquer alimento.
5. Roupa apropriada
Iniciei a trilha de tênis e logo de cara tive que atravessar uma parte do mar para, de fato, começar a caminhada.
Felizmente eu estava carregando um chinelo. Infelizmente, ele era velho o suficiente para me dar sensação de que eu estava em cima de uma prancha, enquanto eu surfava na lama.
Portanto, tenha consciência que você vai molhar o pé e, no caso de optar por chinelo, garanta que ele te dê segurança no caminhar.
Além disso, vista roupas leves e confortáveis, tente não levar muito peso, e não esqueça do protetor solar, óculos de sol e repelente.
6. Tenha companhia
O trajeto inteiro foi cheio de obstáculos naturais. Vários troncos de árvores caídas que tivemos que pular ou passar por debaixo, alguns trechos de mata fechada e pouca sinalização, somados às questões que mencionei acima, nos levaram à conclusão de que o ideal é realizar o trajeto com guias especializados ou pessoas que conhecem bem a trilha.
Apesar de o caminho ser marcado, em duas ocasiões ficamos meio que parecendo o meme da Nazaré Tedesco fazendo cálculo, sem saber pra onde ir, em decorrência da falta de sinalização.
Calculando o risco de morte em seguir o caminho pelo mar ou pela trilha suspeita
Em hipótese alguma vá sozinhx. Já me aventurei algumas vezes sozinha por aí e em um primeiro momento achei que na Trilha das Sete Praias isso fosse possível. Bom, não é.
7. Programe a volta
Foram quase cinco horas de aventura pela mata. Começamos 12h30 e terminamos às 17h. Pensamos que ao finalizar tomaríamos um merecido banho de mar mas no fim, não tínhamos força ou ânimo para entrar na água.
Ao chegar na Praia da Fortaleza, questionamos o local de pegar Uber, táxi ou ônibus e para e nosso desespero, não havia nenhum desses transportes disponíveis. A opção seria esperar uma hora e meia por um ônibus.
Nossa sorte foi que um grupo de guias apareceu e estavam à caminho da Praia da Lagoinha, onde estávamos hospedados, o que nos poupou bastante tempo e dinheiro.
Portanto, programe a sua volta da trilha, já que com contar com a sorte, como a que tivemos, é tão arriscado quanto fazer a trilha de solo úmido com chinelo velho.
Aprendendo com os erros alheios
No meu caso, achei a trilha ótima para minha enxaqueca. Fiquei tão preocupada em sobreviver, que até esqueci da dor de cabeça.
Fizemos a trilha com o solo molhado, não levamos água nem comida, fomos com uma expectativa de “tudo bem, é fácil” e agora nossas panturrilhas estão doendo levemente e não programamos nossa volta.
Ainda assim, a experiência foi fantástica. Certamente, a Trilha das Sete Praias garante uma série de surpresas e sentimentos, podendo ser um programa incrível para quem gosta de contato com a natureza e da paz que isto oferece. Mas fica a dica: programe-se antes.
Seja um viajante consciente
- Não é permitido acampar em locais não regulamentados;
- Consuma refeições locais e contribua com a economia da região;
- Não faça fogueiras;
- Leve o lixo de volta;
- Respeite os costumes e tradições caiçaras.
O que você precisa saber sobre a Trilha das Sete Praias
- Não paga nada para conhecer o lugar;
- Celular funciona parcialmente;
- A trilha é sinalizada e autoguiada;
- Necessário levar água e lanche;
- São aproximadamente 5 horas de caminhada;
- Recomendável o uso de botas ou tênis;
- Leve protetor solar.
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